Ambulift e riscos no aeroporto
No dia 11/12/2010, um cadeirante idoso cai e entra em coma ao ser transportado em ambulift, no aeroporto de Congonhas, em SP.
* Post publicado em 22/12/2011, no blog Acordo de Paz.
Imagens retiradas do Google Imagens.
Cartoon do inspirado Ricardo Ferraz.
Quem se assustou com o acidente é porque não conhece a realidade da pessoa com deficiência no Brasil. Como viajo bastante, inúmeras vezes utilizei ambulift, um carro que é também elevador. Ele transporta a pessoa com dificuldade de locomoção da sala de embarque remoto até a aeronave, pára ao lado desta, na direção da porta, e é então que o veículo se eleva até a altura da entrada. Isso permite que a pessoa entre sem ter de usar escadas.
Jamais entrei em algum ambulift equipado com itens para tornar seguro o transporte da pessoa com deficiência. Todas as vezes travei minha cadeira de rodas com as travas existentes nela. Não vi cintos nem travas em nenhum dos carros em que fui transportada.
Em aeroportos em que não há fingers, ou onde eles não estão disponíveis em certos momentos, também já fui transportada em ônibus, sem cinto de segurança nem travas. E, em aeroportos pequenos, para entrar na aeronave ou sair dela, mais de uma vez fui carrregada por funcionários em uma cadeirinha com cintos de segurança puídos ou cujo encaixe estava defeituoso.
Lamentavelmente as providências costumam ser tomadas apenas quando ocorre um acidente. Há anos pessoas com deficiência protestam e reivindicam melhores condições de transporte, público ou privado, aéreo ou não. Muito já se conquistou, mas ainda há muito por fazer, para que qualquer um tenha o direito de ir e vir em segurança, como garante nossa Constituição.
Acredito que parte da morosidade com que as mudanças acontecem se deva ao seguinte fato: ainda há muita gente que acha que "aleijado" não sai de casa, ou que não deveria sair, porque dá muito trabalho. Atrapalha.
Vários de nós, pessoas com deficiência, ouvem isso. Eu própria já ouvi, quando não tinha carro e precisava me locomover de ônibus. Entrei, ninguém se levantou para me oferecer o lugar (estava usando bengalas, e não cadeira de rodas). Me dirigi a um senhor, que estava acomodado na primeira cadeira, e lhe perguntei se poderia me ceder o lugar, explicando que eu não tinha equilíbrio para ir em pé. Ele respondeu: "Problema seu. Quem mandou você sair de casa?". Meu choque foi tão grande que não respondi nada. As pessoas começaram a chamá-lo de monstro. Foi uma experiência terrível. Como faz falta uma pessoa conseguir, pelo menos, imaginar o que a outra sente ou passa...
Claro que há multidões de pessoas sem nenhuma deficiência que são solidárias e até se juntam a nós nos protestos e nas reivindicações. Mas parece que alguns representantes do gênero humano não acordaram para o fato de que um dia enfrentarão alguma dificuldade de locomoção. Serão idosos (que são constantemente desrespeitados no exercício de seus direitos) ou um dia também poderão se tornar deficientes. Não seria de todo desejável que, nesse momento, a cidade fosse capaz de acolhê-los? Que pudessem, por exemplo, usar o transporte público sem receios? Se locomover pelas calçadas sem risco de queda? Usar os toilettes? Entrar no cinema? Ir ao médico?
Há pouco tempo li uma entrevista com o rapper e cadeirante Billy Saga, feita para o Fantástico, em que ele diz, de forma muito pertinente: "parece que as pessoas continuam com aquela cultura de comigo isso nunca vai acontecer".
Que pena! Uma cidade acessível é boa para TODOS, não só para mamães com carrinhos de bebê, idosos, cegos ou cadeirantes... Mas essa cidade tem de ser tecida!
Ah! A reportagem do Fantástico está aqui.
Saiba mais sobre acessibilidade aqui.
* Post publicado em 22/12/2011, no blog Acordo de Paz.
Imagens retiradas do Google Imagens.
Cartoon do inspirado Ricardo Ferraz.
Laura,
ResponderExcluirVocê não tem idéia de quão maravilhoso foi conhecer seu blog hoje!
Primeiramente gostaria de me apresentar. Sou estudante de design de produto na PUC-Rio, estou cursando o sétimo período e ano que vem estarei trabalhando diariamente no meu projeto conclusão.
Vamos a parte que você vai entender o que vim fazer aqui!
Meu projeto conclusão terá como conceito desenvolver um objeto que permita que pessoas com mobilidade reduzida consigam ter o acesso ao avião facilitado. Hoje em dia isso não existe, apenas aquela coisa do ambulift, que nada se parece com a minha proposta. É isso, quero muito projetar o novo ambulift!
Acredito que você, por ser uma pessoa que viaja muito, e necessita destes serviços, seja uma ótima pessoa para trocar informações!
Gostaria de saber se você pode e está interessada em me ajudar, da maneira que você puder!
Coloquei o endereço do meu facebook! Aguardo seu contato e espero poder ter seu apoio.
Caso prefira fazer contato por e-mail; meu e-mail é biazok@globo.com
Abraços!
Bia, tenho muito satisfação em conhecê-la!
ResponderExcluirSeu post me deixou feliz, porque precisamos mesmo de designers e arquitetos interessados em tornar pelo menos uma parcela do mundo mais adequada para TODAS as pessoas.
Estou à sua disposição para ajudar no que for possível. Abração!
Bom dia, Laura!
ResponderExcluirGostei muito do seu blog e do seu texto. Concordo com cada palavra.
Sou arquiteta e não consigo imaginar um projeto sem acessibilidade.
Eu já faço projetos com acessibilidade desde 1995.
Abaixo você poderá ver um exemplo de um trabalho feito por mim no Museu Histórico do Exército e Forte de Copacabana, que hoje é um expressivo espaço turístico e cultural do Rio de Janeiro. É um dos mais visitados. Espero que goste e vamos trocar idéias.
Um grande abraço
Claudia Aguiar
http://youtu.be/-lrT-TnWVkk
Claudia, é um prazer conhecê-la!
ResponderExcluirQue bom que não consegue imaginar um projeto sem acessibilidade! Tomara que seus colegas sigam seu exemplo.
Adorei saber de seu trabalho no Forte de Copacabana. Tenha certeza de que já está em minha lista para uma próxima visita...
Me escreva mais! Quero muito trocar ideias.
Abração
Laura
ExcluirO seu blog está cada vez melhor. Fiquei muito feliz que tenha ido visitar o Forte de Copacabana e se encantado com o passeio. O Forte é acolhedor e a idéia é receber o visitante da melhor forma possível.
Se você ainda não viu a Exposição Permanente, não perca. É também um dos projetos que executei. São grandes cenários de fatos importantes da nossa História, desde o Descobrimento do Brasil até a Segunda Guerra Mundial.
E o Forte recebeu um novo elevador e o banheiro dos visitantes (acessível) está recebendo melhorias.
Para saber das programações culturais (música, dança e arte) que acontecem todo mês, é só acessar o site www.fortedecopacabana.com. E volte sempre.
Algumas atrações são gratuitas.
Um grande abraço
Oi, Claudia, bom te ver por aqui novamente!
ExcluirAinda tenho de fazer um post exclusivo sobre o Forte. Fiquei feliz em saber que está recebendo melhorias, pois o banheiro deixou a desejar, e o elevador estava desativado quando estive lá.
Como faço para me comunicar com vc? Gostaria de trocar ideias...
Grande abraço!