Queluz e Sintra (Portugal): dá pra ir de cadeira de rodas?

Lilia, eu e Ulysses no Palácio da Pena, com a magnífica paisagem ao fundo 

(de lá se vê o mar, acredita?)


A partir desta, todas as postagens sobre Portugal serão enriquecidas com poemas de Sophia de Mello Breyner Andresen. Não me parece possível retornar de terras lusitanas sem ter ficado impregnado de amor pelo mar. Sophia expressa esse amor com propriedade e beleza.

"Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim. /  A tua beleza aumenta quando estamos sós. /  E tão fundo intimamente a tua voz /  Segue o mais secreto bailar do meu sonho /  Que momentos há em que eu suponho /  Seres um milagre criado só para mim." Mar Sonoro, p. 16

De todos os passeios que fizemos em Portugal, Sintra foi um dos que mais gostei. A visita vale cada minuto, pelo valor histórico, arquitetônico, artístico e paisagístico. Me surpreendeu o zelo com o patrimônio e com as áreas verdes, além da estonteante paisagem.

Fomos de automóvel. Contudo, a partir de Lisboa, é possível chegar lá de várias formas (veja informações no Para saber mais, abaixo).

No caminho para lá, fizemos uma parada no Palácio Nacional de Queluz, que fica apenas a 15km do centro de Lisboa.


Lilia e eu nos jardins do Palácio de Queluz


Palácio de Queluz


O Palácio de Queluz abrigou a família real antes da fuga para o Brasil, em 1807. Lá está o quarto onde nasceu e morreu o nosso D. Pedro I (D. Pedro IV de Portugal). Construído em estilo clássico-barroco, oferece jardins geométricos decorados com estátuas e fontes e belos azulejos.

Os belos azulejos do Palácio de Queluz


Parada obrigatória, pela beleza e pelo valor histórico, tem acesso para cadeirantes, incluindo banheiro. Lá, é possível comprar os ingressos também para o Palácio da Pena, em Sintra. E, se você chegar cedo, por volta de 9 horas, encontrará o local ainda sem visitantes. Pessoas com deficiência têm desconto.

Pessoas com deficiência têm desconto nos Parques de Sintra.


Uma das rampas móveis do Palácio de Queluz


Ulysses admira os belos jardins de Queluz


Os jardins são românticos, com muitas estátuas e fontes (Foto de João Martins)


No quarto onde nasceu e morreu D. Pedro I, admire os objetos pessoais e leia, antes de adentrar o recinto, trechos de cartas do regente, que contêm algumas considerações muito atuais.

Após admirar todos os aposentos, as obras de arte, os móveis e os lustres, peça para abrirem a porta que leva ao jardim, onde há uma rampa de metal para o acesso dos cadeirantes.


Um dos salões do Palácio




Admire o belo piso e o lustre no quarto que pertenceu a D. Pedro I


O jardim lembra os franceses não só na geometria, mas também nos pedriscos que dificultam enormemente a circulação com a cadeira de rodas. Quem for andante se beneficiará se for de tênis.

Para ter acesso à parte inferior dos jardins, serão necessários braços fortes, por causa dos declives e dos pedriscos. Mas vale a pena. 


Jardins do Palácio de Queluz


Mais uma estátua clicada por João Martins



No retorno, poderá pedir para abrirem a mesma porta. Não encontramos outra entrada, embora a funcionária tenha nos assegurada de que ela existe. O fato é que não há sinalizações, segundo eles para que não influenciem o trajeto dos visitantes. Bem, o que ocorre é que os visitantes ficam perdidos. Vimos algumas pessoas bem nervosas por causa disso.

Adeus, Queluz! Agora vamos conhecer a charmosa Sintra!


Centrinho de Sintra


Sintra


Meu Deus, que cidade encantadora! Eu só conseguia dizer e repetir “uau”.

As áreas verdes aquietam a mente, deixam puro o ar e convidam à contemplação e ao silêncio. Ao longo do passeio, inúmeros monumentos surgem por entre as árvores e colinas. Saímos de lá com o firme desejo de um dia retornar.

Fonte mourisca, em Sintra



Segundo o excelente site Parques de Sintra, a cidade despertou tanto a atenção das pessoas que recebeu inúmeras menções na literatura. Escreveram sobre ela autores como Luís de Camões, Hans Christian Andersen, Lord Byron e José Saramago. Quer curtir algumas frases?

“Tudo em Sintra é divino, não há cantinho que não seja um poema.” Eça de Queirós, Os Maias, 1888.

“Hoje é o dia mais feliz da minha vida [Sintra] é a coisa mais bela que tenho visto.”Richard Strauss, compositor

“[Sintra] daria um bom paraíso no caso de deus fazer outra tentativa”José Saramago, Memorial do Convento, 1982

Quer ler mais citações? Clique aqui.

Primeiramente, paramos para conhecer os famosos doces regionais, na casa A Piriquita, tradicionalíssima. Pedimos um de cada – travesseiro, queijada, pastel de nata, noz dourada e pastel de Sintra – e partimos em pedacinhos entre nós. Fizemos isso para minimizar os estragos calóricos. São bons! Mas fique descansado: também tem salgados e o mega necessário cafezinho.

Em Portugal, pastel é um bolinho. Você encontra a iguaria por todos os lados, em versões doces, como o de nata, ou salgadas, como o de bacalhau.

A Piriquita está sempre cheia e é pequenina, por isso tenha calma para conseguir um lugar. O atendimento é impaciente, o que é compreensível, diante das circunstâncias. Não tem acesso para cadeirante, mas com toda a boa vontade o garçom auxiliou meu irmão a carregar minha cadeira.

Na mesma rua (Rua das Padarias), há um artesanato muito rico, no meio de um tanto de bugigangas. São bordados preciosos e cerâmica criativa, tudo disposto em lojinhas numa ladeira. Sim, eu subi.

A Rua das Padarias não fica cheia assim o tempo todo. Isso se deve à 

parada de algum ônibus de turismo. Basta esperar um pouquinho que esvazia.


Rua das Padarias acessível para mim apenas graças aos braços fortes e à boa vontade 

de Ulysses e João, porque até para andantes é um aclive considerável...



Aproveitando essa parada do carro, visitamos o Palácio Nacional de Sintra, mas somente pelo lado de fora. Como não ficaríamos o dia todo, preferimos reservar o tempo para o Palácio da Pena.

E então lá fomos nós de novo, subindo uma longa e íngreme estradinha, que muitos enfrentam a pé!!!!! Saúde, que bênção!

No caminho, passamos pelo Palácio dos Seteais, que se transformou em hotel, com uma vista de tirar o fôlego. Segundo o senhor Aníbal nos explicou, o governo deu concessões para que alguns palácios de transformassem em hotéis, visando conservá-los, o que parece ter sido uma boa ideia.

Palácio dos Seteais (foto retirada daqui)



Não paramos na Quinta da Regaleira, porque não tem acesso para cadeirantes, mas se você é andante não deixe de visitar. Leia mais aqui.

Continuamos subindo a ladeira até chegar à entrada do Palácio da Pena, com uma enorme fila, tanto para comprar ingressos quanto para entrar. Eba, tínhamos adquirido os bilhetes em Queluz. Eba 2: não precisamos enfrentar fila.

Assim que passamos o portão, subimos um morrinho e encontramos o ônibus que deixa os visitantes na entrada do castelo. Ele tem elevador para cadeirantes, mas estava com defeito. Sem problema! O motorista avisou pelo rádio que eu estava lá, e em pouco tempo chegou outro sem defeito.


Os dois motoristas com quem tive contato (na ida e na volta) foram exemplares: 

operaram o equipamento e afivelaram os cintos de segurança de forma correta 


Está vendo como a operação é segura?



O transporte é seguro: eles colocam os cintos de segurança de forma correta.

Minutos depois: Palácio da Pena. Lindo e em reforma. Nada é perfeito.


O Palácio da Pena é um monumento que vale a pena ser visitado, mas se prepar

para a declividade da entrada, após descer do ônibus


As pedras do piso não são fáceis para as cadeiras de rodas...


... mas tudo é tão encantador que seus esforços serão recompensados!


Cadeirantes têm acesso apenas ao terraço, e é necessário subir uma longa rampa pavimentada com pedras arredondadas. Não desanime. Vale a pena, como você verá pelas fotos.

Antes de entrar no castelo, há uma lojinha bem grande, com artigos variados e tentadores. Lá há um bom banheiro adaptado, mas há banheiros acessíveis em vários pontos da grande propriedade (além do castelo, há um imenso jardim, cujo bilhete para visitação se adquire à parte).

Terminada a visita, aguarde o ônibus. Ele passa a cada 15 minutos. Tudo muito organizado!



A seguir, fomos almoçar, porque ninguém é de ferro. O Sr. Aníbal nos levou à Toca do Júlio, no povoado de Almoçageme. Asseguro a você que bacalhau como o de lá não se encontra em qualquer lugar. De comer suspirando!

Tudo estava maravilhoso, desde o couvert: azeitonas divinas, jamón, pães regionais, queijos, melão. Daí, é só pedir um vinho e rezar agradecendo por essa bênção da vida.
Mas não dava para descansar: tínhamos mais terra a percorrer. E lá vamos nós para o Cabo da Roca.


O Cabo da Roca é bonito de doer! (Foto de Ulysses Martins)



Cabo da Roca


Cadeirantes não terão problemas aqui, a não ser conseguir ir embora, depois de deparar com uma vista tão deslumbrante. Eu juro que meus olhos ficaram marejados.

Lilia, João Antônio e eu, entusiasmados com a beleza do Cabo da Roda.


Trecho de poema de Camões em placa no Cabo da Roca



Passamos também por Cascais, mas o cansaço era demasiado para fazer uma parada. Apenas passeamos de carro pelas ruas. É uma bonita cidade litorânea. Se desejar conhecê-la melhor, clique aqui.


Do Cabo da Roca até Lisboa, fomos pela estrada à beira-mar. O paraíso é aqui. Vida, sou só gratidão!


Para conhecer Portugal sem sair de casa:









Comentários

  1. V.Luiza Marques01/11/2014, 19:02

    Laura, que Deus te abençõe e que você possa fazer inúmeras viagens que com certeza nos inspiram a programar outras, mesmo que não seja para terras tão distantes. Gosto muito da sua maneira clara e objetiva de descrever os locais visitados e dos desafios superados com a ajuda do seu irmão. Parabéns.

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    1. Luiza, vc sempre incentivadora! Muito obrigada pelas palavras!

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