Viajando de cadeira de rodas: 7 dicas para uma experiência feliz


Com planejamento, coragem, criatividade e auxílio correto, a gente vai à Lua. 

Na foto, estamos em Aruba, no Caribe.



Viajar é algo que requer um mínimo de planejamento. 

Viajar, quando se tem uma deficiência física, requer planejamento extra – e minucioso. Afinal, em muitos países, incluindo o Brasil, a acessibilidade é bastante tímida, e não é raro que nós, cadeirantes, passemos por muitos tipos de perrengues. Mas bater asas é preciso, e não são os desafios que nos impedirão de fazer isso, não é verdade?  

Alguns cuidados básicos podem diminuir sensivelmente as chances de ter de abrir mão da alegria e do prazer. É sobre isso que vou tratar aqui, torcendo para que, cada vez mais, as pessoas movidas a rodinhas tenham a ousadia de partir por mares nunca dantes navegados!


1 – Não desconsidere suas limitações físicas ao escolher o destino de viagem, mas não fique preso a elas. Lembre-se de acolher seus sonhos. Com planejamento, coragem e criatividade, é possível superar deficiências: tanto as suas quanto as dos lugares que irá visitar.


Quando estive em Poços de Caldas (MG), em 2007, desejei muito subir até a Serra de São Domingos de teleférico. 

Não tinha nenhuma acessibilidade. Mas chegamos lá!



Contudo, para superar a falta de acesso, precisei de coragem e de muito auxílio dos parentes que me acompanhavam. 

Além disso, o pessoal não queria me deixar entrar no teleférico... Precisamos de muitos argumentos para conseguir.


Posso dizer que valeu a pena. Mas não é algo que dê para fazer todo dia, né? 



2 – Comece a planejar a viagem com bastante antecedência (dependendo do destino, vários meses). Dessa forma, é possível conseguir boas tarifas tanto em companhias aéreas quanto em hotéis. Se optar por utilizar uma agência de viagens, não abra mão de acompanhar o processo passo a passo. Afinal, quem sabe das suas necessidades é você – e só você. 

3 – Pesquise sobre o destino escolhido. Para isso, há excelentes sites e blogs de viagens, produzidos tanto por andantes como por cadeirantes, tanto no Brasil como no exterior. É desnecessário reinventar a roda: muita informação preciosa já caiu na rede. Investigue cada local aonde gostaria de ir, checando a acessibilidade também do transporte para chegar até lá. 


Optar por viajar com auxílio de agência de turismo não livra você de pesquisar e comunicar suas necessidades com exatidão. Em geral, não recorro a agência. Mas abri uma exceção quando fui para Araxá, em 2009.



4 – Se optar por adquirir passagem aérea, investigue no site da companhia o que é preciso para ter acesso a atendimento adequado às suas necessidades. Tome todas as medidas requeridas. 

Após comprar as passagens, telefone para a companhia aérea e comunique suas necessidades. Esteja certo de que resolveu todas as suas dúvidas e fez os pedidos que lhe permitam ter uma viagem mais segura e confortável. 

Anote números de protocolo e nomes de atendentes, pois, no caso de demanda judicial por descumprimento de compromissos, todas as informações são úteis. 

Chegue ao aeroporto com antecedência, até maior do que a requerida, para fazer o check-in com calma e garantir o atendimento que foi prometido. Ao adentrar a aeronave, mais uma vez garanta que vai receber o atendimento de que precisa. Isso nunca é demais. 

Deixe no mínimo 2 horas de prazo entre conexões, pois a pessoa com deficiência é sempre a última a sair da aeronave. Você não precisa sofrer com ansiedade, precisa? Então, “perca” tempo.


O atendimento deixou a desejar em todas as companhias aéreas que já utilizei, brasileiras ou estrangeiras. 

Não desanime por causa disso, mas tome suas precauções.



5 – Ao reservar hotel, certifique-se de que ele atende às suas expectativas. Cada cadeirante tem necessidades específicas: tudo vai depender das habilidades físicas, do tipo da cadeira de rodas, da resiliência e por aí vai. 

Avalie sempre: acessibilidade da entrada do hotel, acessibilidade do restaurante, tipo de cama (incluindo altura, se for difícil para você fazer transferências), condições do banheiro (se há cadeira de banho, fechamento com vidro ou cortina, barras de segurança, etc.). 

Não se atenha à página do estabelecimento na internet; ligue para lá. Se for necessário, fale com o gerente. Durante a estadia, se algo deixou a desejar, peça também para falar com o gerente; comunique calmamente e objetivamente suas necessidades e verifique a possibilidade de resolver os problemas.


Em 2014, tive problemas em um hotel em São Paulo. Entre outras coisas, a barra em torno da pia não me permitia 

escovar os dentes. Chamei o gerente, que mandou removê-la imediatamente.



6 – Não se esqueça de levar com você todo medicamento de que puder precisar, pois em alguns países pode ser muito difícil adquiri-los. Leve também a receita médica, principalmente se for um medicamento mais específico, menos comum e estiver fora da caixa. 

E lembre-se: não coloque os medicamentos na mala que será despachada. Já pensou se ela for extraviada? Outra coisa: leve um kit de ferramentas para a manutenção da cadeira de rodas. Pode ser muito útil. Eu tenho um da Ottobock, compacto e eficiente!


Atenção às normas quando for transportar líquido em bagagem de mão. 




7 – Planejar uma viagem significa também oferecer ao seu corpo as condições de que ele precisa para ter resistência e conforto. Por isso, tenha uma rotina de atividades físicas. Garanto que sua viagem será muito mais prazerosa dessa forma, pois os edemas, encurtamentos e dores certamente serão minimizados. 

Se for encarar uma longa viagem aérea, duas dicas: hidrate-se bastante nos dias que antecedem o percurso, a fim de diminuir a ingestão de líquido a bordo; leve em consideração a dificuldade de locomoção para alcançar o toalete. E, no dia que antecede a viagem, cuide para ter menos atividades e uma boa noite de sono, pois só Deus sabe se conseguirá dormir durante o voo, não é mesmo?


Eu faço exercícios regularmente, há anos. Mas, em épocas de viagem, dou mais atenção a alongamentos, por exemplo...



Com essas dicas, suas possibilidades de ter uma experiência feliz aumentam sensivelmente. O mais importante é não deixar de viajar porque as condições não são as ideais. Por maiores que sejam os desafios, uma grande parte deles pode ser superada. 

E, é claro, nada supera o prazer de abraçar uma nova cultura, um novo mundo. Viajar é bom demais!



Para saber mais:


No alto deste blog, nas abas, clique em Ajuda para viajar | Links e veja os sites e blogs que indico!

Não saia de casa sem percorrer, principalmente, o Viaje na Viagem, do guru dos viajantes, Ricardo Freire.

Por que viajar? Clique aqui e leia meu post a respeito!

O blog Cadeira Voadora está em novo endereço, vc sabia? Clique na imagem para acessar!




Comentários

  1. Oieeee, sou Tania e fiquei cadeirante fazem dois anos
    Gosto muito de seus depoimentos e experiencias,sempre fui uma pessoa que gosta muito de aventuras, viagens, trilhas,cachoeiras etc.
    Tenho algumas questões pois agora que estou voltando a ser eu estou tomando ciência do que é ser cadeirante.Enfim, gostaria mesmo de saber que achei muito interessante o seu apoio dos pés que é diferente da minha. Já é de fabrica ou é um acessório? Desde já muito gosto em falar com vc gosto muito das suas dicas.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Mercado Central de BH: tradição das Minas Gerais ao alcance das nossas rodas

Londres para pessoas com mobilidade reduzida

Parque Ibirapuera (SP) para cadeirantes