João Pessoa de cadeira de rodas – Parte 2 – Acessibilidade

Rebaixamento intacto na Praia de Tambaú, de
ambos os lados da calçada, sem ressalto com
relação ao asfalto. Observe a cliclovia entre a
calçada e os táxis: perigosa para a travessia
de pedestres. (Foto: Laura Martins)

Quando escolhi João Pessoa como destino de férias, não esperava encontrar uma cidade com tantas facilidades para cadeirantes. Na verdade, estava preparada para os desafios que comumente enfrento quando viajo: calçadas em péssimas condições, falta de rebaixamento, banheiros inacessíveis ou, outras vezes, uma maquiagenzinha para ficar parecendo que a prefeitura cumpre a lei.

Surpresa! Ao chegar à capital da Paraíba, indo em direção ao hotel, vejo, na parte turística, rebaixamentos em todos os quarteirões e em toda a orla. Ao sair a passeio pela praia de Tambaú, verifico que vários bares têm banheiro com o símbolo de acesso, demonstrando que é possível entrar com a cadeira de rodas, embora não sejam propriamente adaptados. Vi rampinhas na maioria das lojas, incluindo as pequeninas de artesanato. Fiquei com uma ótima impressão!

Bar na Praia de Tambaú. Boa infraestrutura.
Veja na porta do banheiro, no alto, à direita, o
símbolo de acesso: é possível a entrada de cadeira
de rodas, embora o banheiro não seja propriamente
adaptado. (Foto: Laura Martins)
Neste post, vou comentar um pouquinho sobre o hotel, os arredores, restaurantes e companhia aérea. Nos próximos, falarei detidamente sobre o city-tour (adorei!) e o passeio para ver o entardecer na praia do Jacaré, ao som do Bolero de Ravel (muito bacana!).

Companhia aérea

Não tenho hábito de viajar pela Gol. Havia feito isso poucas vezes (duas ou três), mas resolvi fazer essa experiência por causa do preço das passagens, à época bem mais baixos que os da Tam.

Preciso reconhecer que os comissários foram impecáveis: gentis e prestativos, me ajudaram em tudo de que necessitei. Além disso, os assentos foram marcados de forma correta, e fiquei na primeira fila, no corredor. E os elogios vão ficar por aqui, infelizmente. Todo o restante ficou aquém do que seria de esperar.
O embarque foi desorganizado, tanto na ida quanto na volta. Em Confins, achei que não iria aparecer ninguém para me acompanhar até a aeronave. Já estava próxima ao finger (a passarela que atravessamos para acessar a aeronave) quando surgiu uma moça correndo, perguntando se eu precisava de ajuda…

No desembarque, nesse mesmo aeroporto, o funcionário que me buscou na aeronave não pôde me acompanhar até a sala de bagagem. Pelo que pude perceber, não havia pessoas suficientes para as tarefas a realizar. O rapaz me levou até o elevador e contatou uma colega pelo rádio, procurando convencê-la a me ajudar a retirar as malas. Lamentável. Isso nunca havia me acontecido, em nenhum aeroporto, com nenhuma companhia. Funcionários da empresa aérea ou da Infraero sempre me acompanharam até o ponto de táxi ou até o automóvel que me esperava, após a retirada da bagagem. Uma vez, no Rio, o funcionário da Tam se recusou a me deixar até que a pessoa que iria me apanhar aparecesse… No exterior, também nunca houve problemas.

Mas já fiz uma reclamação no site da Gol, que me respondeu em menos de 24 horas, com o texto que transcrevo. Espero que essa companhia melhore o atendimento. E que em breve as pessoas com necessidades especiais de qualquer tipo tenham tratamento digno em todas as companhias aéreas.

Em atenção ao seu e-mail pedimos desculpas pela demora em responder. Informamos que a reclamação foi encaminhada ao setor responsável para reorientação e devidas providências através do registro: XXXX .Lamentamos o fato, onde vale ressaltar que todos os nossos colaboradores são treinados para viabilizar a política da excelência e respeito no atendimento
Não temos como mensurar esta situação, e por isso, agradecemos o contato, pois somente desta forma temos como corrigir uma falha como esta na nossa empresa. Vale lembrar que com a reclamação do cliente, não só o colaborador envolvido como toda a nossa equipe foi reorientada.


Aeroporto de João Pessoa

No Aeroporto Presidente Castro Pinto, localizado em Bayeux, região metropolitana de João Pessoa, não há finger. Assim, na ida, o desembarque foi feito utilizando-se uma “esteira” rolante, na qual se acoplava uma cadeira de rodas. Essa “esteira” se encaixa nos degraus, e foi assim que desci, usando cintos de segurança, com funcionários do aeroporto providenciando tudo com eficiência. No retorno, às 4 da madrugada, esse equipamento certamente deveria estar dormindo… Subi com três funcionários carregando a minha cadeira, de forma bastante insegura… Você sabe: basta um escorregão e a gente vai literalmente pelos ares.

Há banheiros adaptados no aeroporto, em boas condições e limpos. Há cafés, lanchonetes e um restaurante, que funcionam mesmo durante a madrugada. Em resumo: um aeroporto confortável. Não havia painel com indicações sobre os voos, nem sistema de som – ou, se havia, estava com defeito. Morri de rir: o funcionário da Gol se postou diante da porta de embarque, pegou um papel e leu solenemente o texto com todas as instruções sobre o embarque… Divertidíssimo. Ou lamentável, estou em dúvida.


Hotel Tropical Tambaú - vista aérea
(Foto: Google Imagens)
Fica na praia. Literalmente, porque foi construído antes das leis de proteção ao meio ambiente. Me senti um pouco aflita, porque a janela do nosso apartamento ficava em cima do mar, e, quando as ondas eram mais fortes, juro que chegavam até bem perto do vidro. Mas era bem bonito, com barquinhos de pescadores bem no nosso foco.

Há rampas para acesso ao lobby e aos quartos, mas íngremes. Porém, os funcionários são tão, tão gentis, que você poderá contar com eles para tudo!

Hotel Tropical Tambaú - Parte externa
(Foto: TripAdvisor)

Quarto espaçoso, permite boa circulação da
cadeira de rodas. Foto: Laura Martins
O quarto para pessoas com deficiência fica bem localizado, em frente aos jardins, às belas piscinas e ao restaurante, e ao lado do spa (oba!). O banheiro é bem acessível, mas falta uma cortina em torno da área de banho, para evitar que fique tudo “alagado”. Há cadeira de banho e barras de segurança. O quarto é espaçoso, há um vão sob a pia, as camas são confortáveis, o piso é de cerâmica. Não é possível acessar os cabides no guarda-roupa.

Modernização e renovação são algo necessário no hotel: as toalhas são antigas, pequenas, muito gastas; a fechadura (que sempre emperrava) ainda é aberta com chave manual, em um pesado chaveiro.

Banheiro espaçoso, com
saboneteira, barras e cadeira
de banho. Foto: Laura Martins

Elevação do vaso sanitário
e barras de segurança

Vão sob a pia (que fica no quarto, e não 
no banheiro) permite aproximação da cadeira 
de rodas, mas o suporte da toalha torna
a distância até a cuba e as torneiras muito grande.

O restaurante é muito pequeno, e encontrei dificuldade de transitar em torno do buffet do café da manhã e entre as mesas. Como chegamos numa terça-feira, e o hotel estava vazio, foi possível circular com relativo conforto. Mas, a partir de sexta, ficou difícil, quase desanimador.

O Spa Bem-Estar ficava ao lado do nosso apartamento. Gostei muito do atendimento e da energia do local. Fizemos uma sessão de reflexologia com o Cláudio e uma limpeza de pele com a Micheline. Os dois são muito competentes e simpáticos.

Belas piscinas no Tambaú. À direita, fica o
restaurante. À esquerda, parte dos apartamentos.
Foto: Laura Martins

Os pontos fortes do hotel são a localização – perto de tudo e na praia – e a simpatia e gentileza dos funcionários, dignas de nota.

Por causa dos pontos fracos, visitamos um outro hotel, que fica bem perto, a fim de investigar uma hospedagem melhor, para a próxima viagem.


Hotel Verdegreen, em frente à Praia de Manaíra,
pertinho do Tambaú. Foto de Célio Henrique, no Panoramio

No passeio a Areia Vermelha, conhecemos um casal de Belo Horizonte, que estava no Hotel Verdegreen e nos deu boas referências dele. Bem menor que o Tambaú, você não precisa despender tanta energia para se deslocar. A rampa na entrada me pareceu ter a inclinação correta. Não fiz esforço para subir nem descer. Staff gentil. Bom quarto, bom banheiro, chave eletrônica, elevador, tudo bastante moderno. Restaurante espaçoso. Em frente ao mar. Ponto negativo: tapete nos corredores, o que dificulta o deslocamento. Pelo que pesquisei, os preços são compatíveis com os do Tambaú.

Arredores

A calçada do lado do hotel é revestida com cerâmica. Algumas placas estão quebradas, outras faltando, mas, no geral, o estado é bom para circulação. Na calçada em frente, o revestimento é de cimento e a situação é variável. Algumas partes estão quebradas, em outras é possível circular em segurança.

Olha eu aí, curtindo a manhã deliciosa... Observe que
a calçada de Tambaú é toda revestida de cerâmica.
Foto de Lilia Martins

Capricho: os rebaixamentos são todos
pintados de azul, com piso tátil, e sinalizados
com placas. À direita, a ciclovia.
Foto: Laura Martins

Não faltam rebaixamentos nos pontos onde circulei, na orla. Dentro do bairro, a coisa muda: as calçadas estão quebradas, e não há rebaixamentos.

Tome cuidado com a ciclovia, quando for atravessar a avenida, para não ser atropelado por uma bike. E atravesse sempre na faixa de segurança. A maioria dos motoristas para quando vê você, mas não conte com isso, porque gente mal-educada tem em qualquer lugar, além do que há turistas que não conhecem o bom hábito dos pessoenses de respeitar a faixa.

Não são permitidos bares na areia (e nem mesmo cadeiras), por ser área de preservação ambiental. Os bares, barracas e quiosques com água de coco têm bom aspecto e estão junto à calçada. Têm também boa infraestrutura, incluindo banheiros que permitem acesso de cadeira de rodas. O que usei estava limpo.

Há muitos restaurantes próximos ao hotel, todos com rampinha. Fome você não vai passar… Há também lojas de conveniência e padaria. Farmácia é mais difícil; parece que o povo de lá não fica doente. Também, morando num lugar daqueles… Mas há as que entregam no hotel; basta pedir o telefone na recepção. E há um grande hospital da Unimed na cidade. Mas não é por isso que você vai adoecer, né? Há várias agências bancárias na região, todas com rampas, incluindo os caixas eletrônicos.


Em frente ao hotel Tambaú, há uma praça de alimentação com preços bem em conta, mas pouco conforto e muito barulho. Nas barracas e restaurantes próximos, os preços não são baixos, mas também não são proibitivos. São similares aos de Belo Horizonte e mais baixos que os de São Paulo.

Praia de Cabo Branco
Foto: Alex Uchoa

Seguindo mais para a frente, ao sul, fica a praia de Cabo Branco, onde circulei de carro. Mas vale a pena parar e fazer um passeio a pé, porque é uma belíssima região. E a avenida fica fechada ao trânsito das 5 as 8 da manhã, para caminhadas. 

Em resumo: muito conforto e fácil acesso. Pode ir sem medo! 


Para saber mais: 
(atualização em 24/6/2012)

Paraíba sem barreiras - Acesso aos quiosques da orla do Cabo Branco



Obs.: Caso você seja proprietário de alguma da imagens que utilizei, e não concorda com a exposição delas neste blog, basta solicitar sua retirada, que farei isso prontamente. Espero, contudo, que você não se incomode, porque elas estão muito bonitas aqui. E citei a fonte, todas as vezes em que ela era mencionada. Obrigada!



Comentários

  1. Oi, Laura, fomos a JP mais ou menos na mesma época, fiquei pertinho de vc, no Atlântico Praia hotel, andei por ali perto do Tambaú (aliás, fiquei com vontade de estar nele tb, poderoso olhando de fora ::). Eu gostei muito da cidade, muito limpa, bonitas praias e povo gentil, espero voltar para conhecer melhor.
    um abraço,
    clara

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  2. Oi, Clara, que legal! Também gostei MUITO da cidade e também voltarei...

    De fato, ficamos com uma boa impressão dos pessoenses, por serem tão gentis, manterem a cidade limpa, respeitarem a faixa de pedestres e demonstrarem cuidado com o meio ambiente. E, além disso, como eu mostrei, a cidade é amiga dos cadeirantes!

    Vou dar uma passada em seu blog, para conhecê-lo. Abração!

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  3. Olá amiga.......estou prestes a fazer minha primeira viagem de avião depois que fiquei paraplégio e confesso que estou super ancioso e tb preocupado com as condições dos aeroortos em relação á minha nova condição.......moro na PB e adorei saber as informações sob o seu olhar crítico....me ajudou muito.........sempre olho seu blog e acababo viajando nos seus post.

    Um abraço!!!!!!

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  4. Oi, Wellington! Que bom conhecê-lo! Fiquei feliz de saber que o blog é útil para você... Se precisar de alguma outra informação que não encontrou por aqui, é só me encaminhar um e-mail. Estou à disposição.

    E vou dar uma passadinha em seu blog para conferir suas postagens...

    Abração!

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  5. Wendson Elisiario20/12/2011, 22:37

    olá Laura, Parabéns pelo seu Blog... ele é sim de grande Utilidade Pública. Sou de João Pessoa e fico feliz em saber que voçê adorou nossa cidade, por que além de linda e aconchegante ela também é acessivél, como voçê mesmo pode ver! João Pessoa estará sempre de rampas abertas pra lhe receber.
    Abraço

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  6. Wendson, de rampas abertas para me receber? Adorei!!!
    Amei sua cidade e vou voltar, com certeza.
    Abração

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  7. Oi Laura tudo bem? Nossa estou maravilhada com sua dedicação em tentar passar tantos detalhes para quem realmente precisa tanto de saber dessas informações antes de adquirir um pacote.Meu esposo é portador distrofia Muscular e tem algumas limitações e qdo viajamos utilizamos a cadeira de rodas para maior segurança. Me tire uma duvida se puder, as piscinas do Tropical Timbau tem alguma com rampa para entrada ou somente escadas? Um grande abraço parabéns pela iniciativa quero contribuir mais desta forma bjos

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    Respostas
    1. Oi, Jordana! Seja muito bem-vinda! Obrigada pelas palavras tão gentis.

      As piscinas não têm rampa... =(

      Beijins e estou à disposição!

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  8. Laura adorei este blog. Meu marido é cadeirante e estamos com viagem marcada para João Pessoa. Suas dicas serão de grande valia. Fico muito apreensiva com os Aeroportos e Cias Aéreas na maioria das vezes o pessoal não é preparado como deveria para atender ao PNE. Muito Obrigada. Ah...no retorno eu te conto...

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    Respostas
    1. Olá! Que bom que gostou do blog!
      Aguardo seus relatos quando voltar, hein?
      Boa viagem para vcs!

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  9. Amo suas postagens no blog e no youtube. Meu marido é cadeirante e sempre que pesquiso turismo acessivel aparece vc. Obrigada pelas dicas. Continue viajando bastante e nos contando suas experiências.

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