Cadeirantes e taxistas: uma relação nem sempre amigável

Não contarei nenhuma novidade ao falar dos desafios que um cadeirante enfrenta quando precisa de táxi. Vão desde conseguir parar um carro com porta-malas grande o suficiente para levar a cadeira de rodas, até – pasmem! – encontrar um taxista que aceite transportá-lo. Você não me compreendeu mal: às vezes eles não querem nos transportar. 

Enfrento problemas com táxis desde que fiquei deficiente. Quando criança, não tínhamos transporte próprio, e transporte coletivo era inacessível, o que tornava sua utilização muito difícil. Eventualmente precisávamos recorrer aos táxis. Na época, eu usava um aparelho ortopédico e bengalas canadenses. Chegamos a ouvir mais de uma vez que tomássemos cuidado para não estragar os bancos do automóvel. E muitos motoristas passavam direto quando nos viam, possivelmente por causa desse “inconveniente”. Adendo: nunca estraguei um banco com meus aparelhos.

Já tentei parar táxi na rua e o motorista fingiu não me ver; outro dia, um ligou o carro e começou a sair exatamente quando cheguei, mas eu não ia pegar táxi, só entrar num restaurante em frente. Assim que entrei, ele deu marcha à ré e voltou ao lugar!

Há poucas semanas, depois de cerca de 20 minutos tentando pegar um táxi, após 1h30 de castigo na cadeira do dentista, conseguimos parar um carro. A primeira coisa que o motorista me disse não foi bom-dia, mas sim: “Cuidado para não arranhar meu carro com a cadeira de rodas!”

Respondi, com toda a serenidade que tirei não sei de onde: “Moço, não se preocupe. O senhor não precisa se sentir obrigado a me transportar. Posso pegar outro táxi sem problema”. Com isso, creio que ele se lembrou de que um pouco, um pouco só de profissionalismo, de gentileza, de educação – isso tudo não faz mal a ninguém.

Mas pode acreditar: não estou aqui para falar mal de taxistas. Quero crer que os que se comportam assim sejam a minoria. 

Já tive tantas experiências felizes com eles – muitas vezes, até comoventes – que escrevo este texto como um exercício de gratidão. Me sinto na obrigação.

Uma vez, estava há mais de meia hora tentando pegar um táxi, no horário do rush, após um dia daqueles. Já havia mudado várias vezes de calçada e até de quarteirão, imaginando que em outro lugar a situação melhoraria. Alguns taxistas paravam e avisavam que tinham gás no porta-malas, então a cadeira não caberia. Passou um sujeito recém-operado; parou e me pediu desculpas, avisando que estava impedido de pegar peso. Em outros momentos, outras pessoas me desconsideraram, entraram na minha frente, deram sinal para o táxi que vinha e o pegaram…

Quando eu estava a ponto de chorar de desespero, parou um taxista. Olhei com desconfiança… Perguntei: “Seu porta-malas tem gás?”. Ele respondeu: “Sua cadeira desmonta?” Quando eu ia responder com um “Ai, meu Deus”, resolvi dizer que “Sim, minha cadeira solta as rodas”. Foi então que ele desceu, desmontou a cadeira pacientemente, colocou parte no porta-malas, parte no banco de trás. E foi só nesse momento que eu descobri que este tipo de cadeira (dobrável em X) me permite pegar um táxi movido a gás! Ponto para o motorista!

Esta é antiga: há cerca de 20 anos, estava há 50 minutos esperando ônibus, e nada. Passou um taxista, parou e me perguntou se eu queria que ele me levasse em casa. Eu disse que não tinha dinheiro para táxi. Ele respondeu que não estava oferecendo serviço, mas carona. Aceitei, ele me levou em casa, não cobrou nada. Nunca mais o vi...




Em Paris, em 2008, eu estava sozinha, na porta do Musée d’Orsay, tentando pegar um táxi. Muitas pessoas também tentavam... Algumas conseguiram antes de mim, porque fingiam que não estavam me vendo, saltavam na frente e paravam o carro. Até que parou um táxi, recusou outros passageiros e fez sinal para que eu me aproximasse. Quando lhe perguntei se eu tinha entendido direito, se ele estava me chamando, respondeu que sim e acrescentou: “Não vou levar as outras pessoas; você precisa mais que eles”.

Só mais uma história e eu prometo que termino, tá? (Embora eu tenha uma coleção delas…)

Em minha última ida a São Paulo, para pegar o visto americano, o Aeroporto de Confins estava fechado para pouso e decolagem por causa do mau tempo. Por isso, o voo atrasou 3h30. Pensei: “Vou chegar atrasada e perder o visto. Mas o que fazer? Não vale desistir aqui”.

Ao chegar a São Paulo, deixei minha mãe no Aeroporto de Congonhas para retirar a bagagem e parti para o Consulado Americano desejando ter à disposição o teletransporte da Enterprise. Contei ao motorista o drama e informei que possivelmente não iria conseguir o visto, pois estava atrasada – e em terreno estrangeiro não funciona jeitinho brasileiro, como já sabemos… Pedi que fosse o mais depressa possível, sem comprometer nossa segurança, é claro. Novamente, tive a experiência de ele se esquecer de ligar o taxímetro. Me avisou, ligou e disse que não havia problema. 

Rumou para o nosso destino rapidamente, sem descuidar da atenção. Ao chegar, me ajudou a descer, deixou o carro na rua e me acompanhou até o interior do edifício, me aguardando explicar toda a situação a duas pessoas diferentes, até que eu mesma o dispensei, quando já tinha certeza de que seria atendida.

Sr. Francisco. É tudo que sei dele. Se preces adiantam alguma coisa, Sr. Francisco, tenha a certeza de que as minhas o acompanharão pelo resto da existência. Este post é uma homenagem ao senhor e a todas as pessoas que cultivam o profissionalismo, e mais que isso: a solidariedade.

Não esqueço jamais o bem que as pessoas me fazem. O mal, eu deixo ir. Fica o aprendizado, sempre presente em todas as situações… Mas é claro que a gente pode pegar a placa do motorista e reclamar nos órgãos competentes, não é mesmo? Não custa nada e, quem sabe, a gente vai ajudando na seleção "natural" dos taxistas. ;)

Todas as imagens foram retiradas do Google.


Para reduzir suas chances de passar perrengue em Belo Horizonte, fique com estas dicas dos cadeirantes daqui:

Acessível Táxi BH: frota de táxis acessíveis. Fone: (31) 2555 6200 (desativado)

Uai Táxi: frota de táxis acessíveis. (31) 3022-7327

Motoristas com Doblòs acessíveis:
Alexandre: 9651-1136
Erivaldo: 9291-6835
Ismael: 8275-3669 / 9657-4269


Tenho usado os serviços de táxi da WayTáxi e nunca mais fiquei horas esperando o carro que alguma remota recepcionista de radiotáxi prometeu enviar... E 20min depois ligou dizendo que não conseguiu nenhum. #Desrespeito
Vc entra na internet, acessa o site, faz seu cadastro. Coloca o endereço de onde está e clica em Confirmar. Aparecem, então, a foto e os seguintes dados do motorista que virá ao seu encontro: qual é o carro, a placa, o número do celular. E aparecem para ele os seus dados. Você acompanha o táxi chegando através do mapa virtual. Fácil! E é possível baixar o aplicativo para smart. Clique aqui e veja como funciona.

No mais, boa sorte! E, caso queira fazer alguma queixa de motoristas, ligue 156.




Comentários

  1. Uau... Educação padrão Paris, please... =)

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    1. Olá, Cantinho Adaptado, obrigada pela visita! Abs

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  2. Tem muita gente ruim nesse mundo ,mas graças a DEUS sempre tem um bom coração pra ajudar a gente ,nas horas dos perrengues kkkk
    bjs querida esse teu blog é muito bom

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    1. Que bom que curte o blog, Aldrey! Gratíssima pela visita.

      Sim, sempre aparece alguém pra ajudar!

      Bjks

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  3. Os Telefones de Táxi Acessível para cadeirantes em Belo Horizonte Contagem e Região estão desatualizados .Sou taxista de Táxi Acessível para cadeirante
    Meu número 31 99795 3022

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