Mergulho adaptado em Bonaire

A Cadeira Voadora ganhou mais um colaborador! Quem vai conversar conosco hoje é a Adriana Buzelin, mais uma cadeirante que voa. Vamos conferir a viagem que ela fez a Bonaire para… mergulhar!

Todas as fotos pertencem ao acervo de Adriana Buzelin, com exceção dos mapas, que
foram retirados do Google Imagens


Mergulho adaptado em Bonaire
Por Adriana Buzelin*

Antes de qualquer coisa quero dizer que é um imenso prazer ter a oportunidade de postar no blog Cadeira Voadora uma das mais belas viagens que já fiz. Obrigada, Laura Martins!

Não tem como falar desta belíssima viagem à ilha de Bonaire sem antes falar o porquê de ter passado mais de 17 horas viajando para simplesmente mergulhar neste paraíso caribenho. Pois é, a ilha de Bonaire é considerada, pelos mergulhadores, o paraíso, e tem muitos motivos para carregar esse título. A ilha é linda, rodeada por um mar que fica entre o azul-marinho e turquesa, com 60 pontos de mergulho, onde, para quem mergulha, a visibilidade debaixo d’água faz toda a diferença. Nesses pontos de mergulho podemos experimentar conviver com a imensa diversidade marinha e com a água em uma temperatura que não dá vontade de sair.



Como mergulhadora, confesso que não sei dizer qual é o melhor ponto, ou mesmo se existe um melhor, pois cada um deles tem suas particularidades. Existe ainda uma pequena ilha vizinha (a um pouco mais de 1.000 metros de distância da costa americana da ilha maior) chamada Klein Bonaire, onde há outros mais de 20 pontos perfeitos para a prática desse esporte.





De volta ao começo

Desde que fiz meu curso de mergulho adaptado, em outubro de 2012, tenho experimentado muitos novos desafios e, também, um dos maiores prazeres em minha vida. O mergulho adaptado entrou em minha vida da forma mais inusitada, afinal nunca havia pensando em mergulhar, ainda mais após o acidente automobilístico que sofri, que me deixou sequelas como a tetraplegia.

Por falta de informação, eu não sabia que existia o mergulho adaptado, e com ele a HSA** Brasil, que foi fundada em 1981 por Lucia Sodré, implantando o mergulho adaptado por aqui. 

Quando meu irmão, Márcio, estava de férias em Fernando de Noronha, mergulhando de forma recreativa, percebeu que a sensação era tão singular que poderia me tirar desse universo terrestre onde enfrento tantos obstáculos físicos. Me ligou, relatando como era fascinante estar submerso, e me fez a proposta de tentar fazer o mesmo.

Percebendo que em Belo Horizonte não havia ainda nenhum curso de mergulho adaptado, fui buscar informações; em conversa com a Lucia, descobri que em SP havia um instrutor credenciado pela HSA que poderia me dar o curso. Não deu outra: fui a São Paulo e encontrei William Spinetti. Passei uma semana entre aulas teóricas e práticas na piscina da sua escola para depois ser avaliada no mar de Ilhabela, litoral de São Paulo, e assim conquistar meu diploma e a carteira de mergulhadora HSA Internacional. Hoje carrego o título de primeira mergulhadora tetraplégica mineira, do qual me orgulho muito, pois sei que após essa empreitada incentivei muitas pessoas aqui em Minas Gerais à pratica desse esporte. Mas esse já é um assunto para o próximo post. ;)

Diploma e carteira de mergulhadora: vitória!


Digo que foi a melhor experiência que tive em toda minha vida.  A partir do momento que adentramos no universo do mergulho, nossa vida se transforma; abre-se um novo olhar, e aí não conseguimos viver mais sem. Queremos, cada vez mais, ousar, experimentar, descobrir…

A sensação da água dando liberdade e leveza era o que percebia em meu corpo, enquanto em minha mente só me havia uma sensação de um imenso prazer, de capacidade e fascinação por poder desvendar esse novo universo, do qual nunca sairei. Depois disso, percebi que minha vida não seria mais a mesma!


William Spinetti e Adriana no fundo do mar de Bonaire


Voltando a Bonaire…

Onde fica? 

Bonaire é uma ilha localizada no mar do Caribe, ao norte da América do Sul, ao largo da costa da Venezuela (mas não tem nenhum vínculo político ou econômico com esse país). Teve colonização espanhola e foi vendida à Holanda, da qual foi colônia até a década de 50, para servir de zona portuária. Nos anos 80 emancipou-se como município independente dos Países Baixos. É a segunda maior ilha do chamado Arquipélago ABC (Aruba – Bonaire – Curaçao). O idioma predominante ainda é o holandês, mas existe também uma língua local chamada papiamento, que sofreu influência do espanhol e do inglês. Como a ilha vive cheia de turistas, quase todo mundo fala alguma coisa de espanhol e inglês; então, dá pra se virar bem.


Bonaire vista do píer do Buddy Dive Resort


Como chegar? 

Não há voos diretos do Brasil, e o caminho mais frequente é pegar um voo para Aruba e de lá pegar outro para Bonaire. Voamos pela Copa Airlines, saindo de São Paulo para Aruba, com conexão na cidade do Panamá.  Depois, de Aruba para Bonaire, voamos pela Tiara Air Aruba.  Na volta, fizemos o mesmo trajeto, porém passando por Curaçao. A viagem é cansativa, pois, além de enfrentar a falta de acessibilidade dentro da aeronave, passei muitas dificuldades nos banheiros “adaptados” das escalas. O único banheiro que consegui usar sem dificuldade foi o do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.

Quando embarquei em Aruba com destino a Bonaire, me deparei com um aviãozinho que mais parecia uma aventura surreal, pois a aeronave, apesar de bem pilotada, é muito pequena, antiga e com escadas. Daí, a única opção é ser carregada pelos comissários e pelos companheiros de mergulho, sentar em uma cadeirinha estreita e velha, com o cinto de segurança improvisado, e subir degrau por degrau até chegar à aeronave.

Voltar para o Brasil foi ainda pior, pois em Curaçao tivemos que descer da aeronave, da mesma forma que citei acima, somente para passar pelo pedágio e voltar para a mesma aeronave. Nem alegando dificuldades físicas eles aceitaram que eu pagasse o pedágio sem sair da aeronave. Tive que descer percorrer toda a pista de voo na cadeira de rodas, passar no pedágio e retornar.

Em uma dessas escalas, ou seja, em Aruba (tanto na ida quanto na volta), fomos comer no delicioso restaurante 14 Bis, que fica na avenida ao lado do aeroporto. Comida deliciosa, mas o atendimento… mais devagar, impossível.




E finamente chegamos a Bonaire!!!

William, Adriana e Kleber na chegada a Bonaire após 17 horas de viagem


No próximo post vou relatar a vocês como foi a estadia no Buddy Dive Resort e os mergulhos fascinantes que fiz, com belas fotos da viagem.


** HSA (Handicap Scuba Association), fundada em 1981, dedicou-se a melhorar o físico e o bem-estar social das pessoas com deficiência através do esporte de mergulho, tendo mergulhadores instrutores em alguns pontos do Brasil, um deles em São Paulo.



*Adriana Buzelin (na foto, com Pipoca)
é uma cadeirante polivalente: 
cursou Relações Públicas, atua como modelo, 
é artista plástica e mergulhadora. 
Quer saber mais sobre ela? 
Clique no link: 




Comentários

  1. Que emoção participar deste blog que admiro tanto! Um beijo Laura! Obrigada ;)

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    Respostas
    1. É uma honra para o blog, Adriana! Aguardamos novos posts! ;)

      Grande beijo!

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