Hotéis acessíveis em Belo Horizonte
Lobby do Ibis Savassi (Todas as fotos pertencem ao meu arquivo pessoal) |
Vem aí a Copa do Mundo, e já
está em cima da hora para reservar um hotel nas cidades que vão sediar os
jogos. A fim de oferecer a minha contribuição para os cadeirantes que veem a
Belo Horizonte, nesta ou em outras oportunidades, avaliei dois hotéis e
pretendo examinar pelo menos mais um em tempo hábil.
Descartei antecipadamente os que se localizam em ruas íngremes, em locais menos seguros ou em áreas
com calçadas muito quebradas ou sem rebaixamentos. E escolhi localizações que
permitem ao cadeirante sair sozinho para fazer suas refeições fora do hotel,
ter acesso a lojas e lazer a pé, ou rodando uma pequena distância de táxi.
Em minhas pesquisas, vi que há
pelo menos um hotel acessível próximo ao Mineirão, o estádio onde os jogos
serão realizados. Fica numa área muito bonita, mas o cadeirante praticamente ficaria preso à região, pois o único passeio que poderia fazer a pé seria à orla da
Lagoa da Pampulha – o que não é pouco, mas para ter acesso a outras áreas de lazer, restaurantes e lojas precisará utilizar táxi e rodar bastante. De
qualquer modo, citarei no post o nome do hotel, apesar de não ter ido lá
fazer uma vistoria. Apenas telefonei para confirmar se havia quartos com acesso.
Vamos, agora, ao que interessa?
Ibis
Savassi
Embora eu não tenha me
hospedado neste hotel, portanto não posso avaliar os serviços, me pareceu um
dos melhores hotéis acessíveis para cadeirantes que já tive oportunidade de
conhecer. Você sabe: grande parte da rede hoteleira apenas faz uma maquiagem para
evitar problemas com a fiscalização. Não há acesso de fato. Não é o que acontece com o Ibis Savassi.
A entrada é feita através de rampa suave, e a porta é automática e dupla. Há ponto de táxi ao lado.
Rampa suave na entrada do hotel Ibis Savassi |
No balcão de recepção, falei com Daniela, tanto por telefone quanto pessoalmente. Foi ela quem nos guiou pela vistoria. Além de ser bastante gentil e simpática sem afetação, soube responder com firmeza e objetividade a todas as perguntas. A gerente agradeceu minha visita e pediu que lhe informasse caso encontrasse algo que não fosse adequado para os cadeirantes. Foi o que fiz ao final da visita, apontando poucas coisas, que você verá a seguir. Ela se prontificou a resolver.
O hotel é seminovo, por isso tudo
cheira bem – no sentido literal da palavra. E funciona perfeitamente.
O lobby é bonito e agradável. Os elevadores são silenciosos e
rápidos. O restaurante é amplo e claro e serve
café da manhã e jantar (opcionais). Pelas fotos, você verá que as mesas
permitem aproximação frontal, mas podem não ser adequadas para um cadeirante
com pernas muito compridas. O balcão de frios é mais alto, mas o de itens
aquecidos fica numa altura adequada. Há banheiro adaptado/fraldário neste
andar.
Sentado dá pra alcançar o local de inserir o cartão magnético para acionar o elevador |
Mesa do restaurante permite aproximação frontal da cadeira |
Na hora em que visitamos o restaurante, ele não estava funcionando. Simulei passar com a bandeja pelo balcão de frios. É um pouco alto; o cadeirante precisará de ajuda para alcançar os itens. |
O balcão de itens aquecidos tem a altura ideal |
Há um quarto adaptado por
andar, num total de 9, se não me engano. Não ficam perto do elevador, mas
também não estão muito distantes. Os corredores têm tapetes, mas não achei
difícil circular.
Os quartos são excelentes;
superaram a minha expectativa. Tanto a porta do apartamento quanto a do
banheiro são muito largas. A do quarto tem uma barra pelo lado de dentro, o que
permite ao cadeirante fechá-la com facilidade. A do banheiro é de correr, e,
como está nova, não é necessário colocar muita força para movimentá-la.
Tudo está
ao alcance das mãos: cabides no guarda-roupa, cofre, regulagem de
ar-condicionado, janela, cortina, secador de cabelo… Tem espelho no quarto. A
cama fica na altura da cadeira de rodas. Bom demais.
Ponto negativo do quarto: o hotel disponibiliza apenas cama de casal.
Ponto negativo do quarto: o hotel disponibiliza apenas cama de casal.
Cabides ao alcance das mãos. Área de giro confortável em frente ao guarda-roupa. |
O cofre fica na mesinha de cabeceira, fácil de alcançar. |
Veja: a cama tem a altura ideal, o que facilita as transferências. |
Cortina fácil de abrir, janela ao alcance das mãos, também fácil de abrir. |
O banheiro tem cortina de
plástico no box, o que é ótimo: não dificulta o acesso e reduz as chances de
alagamento… Ducha com torneira monocomando, barras de segurança, banqueta para
banho fixa na parede.
Pontos negativos do banheiro:
- Não há cadeira de banho com rodinhas, mas a gerente me disse que o cadeirante pode solicitá-la no momento da reserva, pois os outros hotéis da rede Ibis em Belo Horizonte podem emprestá-las. Mesmo assim, se mostrou interessada em adquirir uma; me disse que não sabia quanto uma cadeira desse tipo é necessária para cadeirantes que têm pouco equilíbrio.
- A pia é muito pequena, e a barra que a envolve muito afastada na frente. O cadeirante consegue aproximação frontal, mas não o suficiente para escovar os dentes, por exemplo. Sugeri que a pia seja substituída por uma maior, ou a barra seja substituída por uma mais próxima à pia.
- O assento sanitário tem abertura frontal, o vaso sanitário não. Sugeri a substituição do assento.
Banheiro com porta de correr, truque para aproveitar bem o espaço! A porta não é pesada, mas um cadeirante com pouca força nos braços pode ter dificuldade... |
Porta do banheiro é bem larga. |
Banqueta de banho fixa, cortina no box, ducha monocomando, espelho inclinado, barras: o banheiro é bastante adequado. Precisa de poucas adequações. |
Controle da climatização em altura adequada e sem barreiras (em alguns hotéis esse controle fica completamente inacessível...) |
Arredores
O hotel fica na Savassi, uma
das regiões mais charmosas da cidade. O trecho onde se localiza é plano, e há
rebaixamentos para a travessia da Avenida do Contorno. Do outro lado, bem
perto, há uma Drogaria Araujo (a principal rede de farmácias/drugstore da
cidade) e o Shopping Pátio Savassi, um dos mais sofisticados de Belo Horizonte,
com excelentes opções de lojas, cinema e gastronomia.
Pegando um táxi, tem-se acesso facílimo
à Praça da Liberdade, com várias opções culturais e gastronômicas: museus,
teatro, cinema, biblioteca, cafeterias, restaurantes. E, claro, à própria Praça
da Liberdade, que, se não é muito acessível, é muito bonita e agradável.
O hotel se localiza a cerca de
12km do Mineirão, de acordo com o Google Maps. Na ponta do lápis, acredito que
valha mais a pena ficar no Ibis e arcar com os custos dos táxis para o Mineirão
do que ficar próximo ao estádio e ter de pagar táxis para passear ou comer algo
fora do hotel. E, mesmo se hospedando perto do estádio, não será fácil ir a pé,
por causa dos aclives, da distância, da falta de rebaixamentos, etc.
Clique aqui para ter acesso ao hotel Ibis Savassi no TripAdvisor
Mercure Belo Horizonte Lourdes
Janela grande do Mercure permite uma vista bastante agradável, sem risco, porque esta parte não abre. |
Trata-se de um hotel localizado
numa região nobre (divisa de Santo Antônio com Lourdes), mas sem as facilidades
de acesso do Ibis. Por exemplo, para atravessar a faixa de segurança em frente
ao hotel, há rebaixamento no centro da avenida (na ilha de pedestre), mas não
na calçada do hotel. A área onde ele se localiza é plana, mas sair de lá a pé
não se revela simples, a não ser que o cadeirante esteja acompanhado por alguém
com braços fortes ou peça ajuda.
Há ponto de táxi na porta. E há
restaurantes nas proximidades, na Rua Fernandes Tourinho, mas será preciso
atravessar a avenida para ter acesso a eles.
O atendimento na recepção é
cordial, mas não tão prestativo e pessoal quanto no Ibis. Quando fiz alguns
reparos com relação ao quarto ou à calçada, não notei interesse em mudar a
situação.
Local de inserir o cartão magnético está numa altura ótima para cadeirantes. Painel com inscrições em braile. |
O café da manhã é opcional. Sobre
o restaurante não posso falar, porque não o visitei.
Os elevadores são renovados,
com inscrições em braile nas teclas. Há apenas quatro quartos adaptados, que
são próximos aos elevadores. Por isso, o piso com tapete não chega a incomodar.
O quarto que visitei é pequeno,
e o cadeirante encontrará dificuldade na circulação. Atenção: uma cadeira maior não passa ao lado da cama. A minha é bem
estreita, e mesmo assim não foi fácil circular.
Para abrir a porta do
guarda-roupa, é necessário mandar retirar a mesa de cabeceira. Com ela, a porta
não abre. Não acreditei que pudessem deixar passa uma falha dessas…
Para abrir a porta do guarda-roupa, que é articulada, foi preciso afastar a mesa de cabeceira. Mas os cabides e o cofre estão em altura adequada. |
Nesta foto, vemos a porta articulada totalmente aberta. Mas só é possível chegar perto se a mesa de cabeceira for removida. Não é suficiente afastá-la. |
Há apenas cama de casal, e não
é possível trocar por duas camas de solteiro.
Mas há pontos positivos: tem
forno de micro-ondas e janela baixa, o que lhe permite desfrutar de uma vista
bem agradável.
O banheiro tem um defeito:
box de vidro. Mas a passagem é ampla, pelo menos. A banqueta para banho é fixa,
e não há cadeiras de banho disponíveis, nem se disponibilizaram a providenciar.
O fechamento da área de banho é com blindex, mas a abertura é larga. Banqueta fixa; não há cadeiras de banho. Ducha manual com torneira monocomando. |
Espelho está em boa altura e pia permite aproximação frontal. Mas não há barras de segurança. |
A abertura frontal do assento sanitário não chega a comprometer o uso |
A pia permite aproximação frontal sem dificuldades, e o assento sanitário tem uma abertura frontal irrelevante, que não atrapalha em nada.
O hotel conta com spa, o que eu
acho ótimo, mas não pude conhecê-lo para saber se é acessível, porque fui no
dia em que está fechado.
Ah! A distância até o Mineirão também é de
cerca de 12km.
Clique aqui para ter acesso ao hotel Mercure Lourdes no TripAdvisor
Clique aqui para ter acesso ao hotel Mercure Lourdes no TripAdvisor
Hotel próximo ao Mineirão
Próximo ao estádio, há pelo
menos um hotel acessível, como disse no início. É o San Diego Suítes Pampulha,
que fica a apenas 2km do Mineirão. Caberá ao visitante fazer seus
cálculos e verificar, tomando por base o valor da diária e os preços dos deslocamentos,
em que região vale a pena se hospedar!
Bem, pessoal, por hoje é só.
Espero ter conseguido auxiliar!
Para saber mais:
Para calcular o valor
aproximado de corridas de táxi, clique aqui.
Para post com dicas de táxi em
Belo Horizonte, clique aqui.
Para dicas de lazer em Belo
Horizonte e região, clique aqui.
Ei Laura. Também sou cadeirante de BH. Parabéns pela iniciativa, com certeza será bastante útil para quem vier!
ResponderExcluirPara você ver como gosto varia: peço permissão para comentar algumas de suas colocações.
O banheiro do Íbis tem cortina, enquanto que no Mercure é com box de vidro. Nos banheiros com cortina que já utilizei, depois do banho o banheiro INTEIRO vira uma piscina, com lâmina d'água de 1 cm. O box de vidro não permite que isso aconteça e, desde que tenha espaço para aproximar a cadeira e fazer a transferência, permite um banho sem esparramar água. Acho bastante incômodo ter que pedir a alguém para secar todo o banheiro a cada banho tomado. Ou seja: prefiro 1000 vezes o box de vidro à cortina. A menos que o chão tenha declividade suficiente para escoar toda a água, sem deixar vestígio algum. Sinceramente, nunca vi isso no Brasil.
Outro ponto que não gostei foi esse assento elevado do Íbis. Os parafusos de fixação desse assento normalmente são de plástico e não dão firmeza. Sentar sobre ele, pelo menos no meu caso, me lembra as cadeiras de balançar dos parques, na minha infância... A queda é iminente.
Quanto às barras no lavatório, são objeto de curiosidade para mim: já pesquisei as normas e o Google, e sinceramente não sei para que servem. Acredito que sejam úteis para quem consegue ficar em pé com dificuldade. Sabe se estou certo?
Quanto às opções culturais e gastronômicas da Praça da Liberdade, concordo com o que disse, com um adendo: acessibilidade ZERO em todos os museus, teatros, cafeteria e etc (TODOS ficam em ruas íngremes E/OU tem vários degraus na porta).
Abraços e parabéns pelo blog!
Rui Leal
Ei, Rui! Obrigada pela visita e, principalmente, pelo comentário tão enriquecedor.
ExcluirGosto varia sim, mas algumas decisões devem atender à norma, não são questão de gosto... Aqui no blog, na barra da direita, há alguns links que levam a sites de arquitetos. Neles, há informações sobre o melhor modo de tornar os ambientes acessíveis.
Mas é impossível atender a todas as necessidades e gostos, com certeza.
Se o box de vidro permite a entrada do cadeirante, ótimo. Em minha experiência, é a primeira vez que vejo isso ocorrer. Já estive em hotel cuja abertura do box era tão estreita que tive de fazer contorcionismo para entrar... De qualquer modo, o ideal é o cadeirante se aproximar o máximo possível da banqueta, para não cair. E uma cadeira mais larga que a minha terá problemas no banheiro do Mercure...
A cortina deixa passar água sim... Ou seja: ainda não apareceu a solução ideal para este desafio (pelo menos não que eu saiba). Mas o pior que pode acontecer é o cadeirante não ter como entrar. E, se não houver cortina, o piso vai ficar ainda mais molhado.
Quanto ao assento elevado, a função é substituir a elevação de toda a bacia sanitária. Ele é a opção quando não foi providenciada a elevação do vaso. Vaso sanitário mais elevado serve para facilitar a transferência de alguns cadeirantes com mais comprometimento muscular. Tudo que estiver no nível da cadeira de rodas facilita a transferência.
A função das barras é dar segurança para pessoas que têm o equilíbrio comprometido. Além disso, servem para facilitar a transferência dos cadeirantes com comprometimento motor maior. Ele se apóia nas barras para fazer a transferência.
Puxa vida! Vou pedir permissão para discordar de vc com relação à acessibilidade dos equipamentos no entorno da Praça. Aqui, no blog, tem alguns posts sobre eles.
Museus: têm entrada lateral para o cadeirante (Minas Gerais Vale, CCBB, Espaço do Conhecimento). No CCBB-BH, se o cadeirante for de táxi ou com outra pessoa dirigindo, o carro pode parar na entrada acessível para o cadeirante descer. Caso não, realmente há uma rampa íngreme, mas braços um pouco mais fortes dão conta do recado! Depois que vc entrou no CCBB, as cafeterias e o teatro são acessíveis. E a cafeteria do Museu das Minas e do Metal é acessível.
Conclusão: a situação fica complicada quando o cadeirante sai sozinho com o próprio carro. Nesse caso, as opções ficam reduzidíssimas. Mas, se ele sair acompanhado, não haverá problema, em minha opinião!
Te convido a conhecer minha página no Facebook. Lá, podemos trocar ideias com mais facilidade! https://www.facebook.com/cadeiravoadoralauramartins
Abração
Valeu pela resposta, Laura. Vou te acompanhar pelo Facebook. Parabéns pelo trabalho!
ResponderExcluirAs barras que questionei são as do lavatório. A gente não faz transferência pro lavatório. A gente se aproxima com a cadeira. E na cadeira, a gente tem estabilidade. Quem não consegue inclinar o corpo pra frente na cadeira, não há de ser com as barras que irá conseguir. Continuo na incógnita rsrsrsrs.
Fiquei num hotel em NY com cortina no chuveiro. O piso do banheiro tinha uma inclinação, visível a olho nu, em direção ao ralo do chuveiro. "Isso não vai dar certo", pensei, preparado pra piscina. Pois o dito cujo não deixava uma gota sequer no chão do banheiro. Se você jogasse água pra fora com o chuveirinho, propositalmente, em segundos estava tudo escorrido de volta pro ralo. Fiquei fã absoluto! Mas não sei se vou viver pra ver isso no Brasil...
No post, fico com o banheiro do Mercure e o quarto do Íbis.
Oi, Rui!
ExcluirNa verdade, as adaptações são destinadas não apenas a cadeirantes, mas a pessoas com mobilidade reduzida. Por isso as barras no lavatório. Uma pessoa que fica de pé, mas tem o equilíbrio comprometido, precisa delas.
Isso já aconteceu comigo própria, na época em que me locomovia com bengalas canadenses. Inúmeras vezes precisei me apoiar no lavatório para lavar as mãos e, principalmente, para escovar os dentes. Quando ele não tem barras, acabamos nos apoiando na própria louça, e ela pode se quebrar com o peso. O risco não é pequeno!
E, de fato, o ideal é que o piso do banheiro tenha a inclinação que mencionou. Algo tão fácil de fazer, não é mesmo?
Grande abraço e obrigada pela visita!
Gostei muito de ler, excelentes informações. Obrigada e parabéns. Lourdinha
ResponderExcluirObrigada, Lourdinha. Forte abraço!
ExcluirParabéns pelo blog! Adorei!
ResponderExcluirQue bom que gostou! Já visitou o novo endereço? Passa lá! www.cadeiravoadora.com.br
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