Rio de Janeiro para cadeirantes 2 – teatro e exposição


Confortavelmente instalada na frisa, de frente para o palco.
(foto de Josane Barbosa)

Ao visitar uma cidade, um dos meus grandes interesses é, sem dúvida, conferir as ofertas culturais. O Rio é uma opção perfeita nesse caso, pois há sempre uma infinidade de peças, shows e exposições em cartaz.

Eu fazia questão de conhecer o belíssimo Theatro Municipal, recém-reformado e, segundo a imprensa, com acesso para pessoas com dificuldades de locomoção. E tínhamos também a intenção de assistir à peça A alma imoral, monólogo com Clarice Niskier, em cartaz no Teatro do Leblon.

Ficamos poucos dias na cidade, mas, em nossas voltas pelo centro histórico, ainda conseguimos visitar a interessante exposição sobre a Índia, em cartaz no CCBB.


Libreto e ingresso do concerto a que assistimos...
(Foto: Laura Martins)


Aborrecimentos no Theatro Municipal

Fachada do Theatro Municipal.
Foto retirada daqui.
Vocês não podem imaginar o trabalho que deu comprar um ingresso com direito de ocupação do lugar reservado para cadeirantes.  Para começar, a bilheteria não se localiza no prédio do Theatro, mas em um anexo, na Av. Almirante Barroso, 14. Josane adquiriu o ingresso dela em 2 minutos, e eu em meia hora!… Segundo nos informaram na bilheteria, como os bilhetes também são comercializados pelo site Ingresso.com, os dois postos precisam se comunicar um com o outro para que não haja riscos de vender lugares já ocupados. Mas não consegui entender por que isso demora tanto…

A entrada para pessoas com dificuldades de locomoção fica na lateral do Theatro, e há somente uma pequena plataforma elevatória para acesso ao segundo piso, onde ocorrem as apresentações. O resultado é uma longa espera, tanto na entrada como na saída do espetáculo, pois havia muitos idosos presentes ao concerto.

Para transpor os poucos degraus que dão acesso à sala de espetáculos, os funcionários trazem uma rampa móvel, bastante íngreme, mas eles mesmos se encarregam de nos auxiliar. Bem, finalmente entrei na deslumbrante sala, mas minha maior surpresa não foi a beleza do local. Foi averiguar que o lugar destinado aos cadeirantes não era nivelado. Pelo contrário: tinha uma grande inclinação, maior, inclusive, que a permitida pela ABNT para a construção de rampas de acesso!

Apesar de ter ficado um pouco desfocada, a foto permite
perceber a grande inclinação do piso, no espaço reservado
para cadeirantes. (Foto de Josane Barbosa)
E imagine que esse é o local para que nós, que estamos em uma cadeira de rodas, possamos assistir a duas horas de espetáculo! Naquele momento, tive o nobre desejo de conhecer o arquiteto responsável por isso e convidá-lo a assistir ao concerto comigo, sentado do meu lado… em uma cadeira de rodas, claro! Certamente, ao final do espetáculo, ele iria precisar de um ortopedista para consertar a coluna. Sem contar que, como grande parte dos cadeirantes tem dificuldades de se equilibrar, há risco de escorregar e cair!

O fato é que, após o susto, chamei o funcionário e lhe perguntei, a fim de confirmar: “Aqui é o lugar para os cadeirantes?” Ele respondeu que sim. Então, arrematei: “Aqui eu não fico”. E ponto final.

Aqui, a inclinação vista de outro ângulo.
(foto de Josane Barbosa)
Ele então desapareceu. Minutos depois, voltou com outro funcionário, que trocou nossos ingressos e nos destinou uma frisa (camarote quase no nível da plateia), com total conforto e visão privilegiada do palco. Aí, sim, meu nervosismo passou, mas não a indignação, pois sei que esse tipo de situação continuará ocorrendo. Por isso, se algo assim acontecer com você, proteste! Não aceite ser tratado de forma que não seja digna e respeitosa!

Há banheiro adaptado no andar da sala de espetáculos, muito bonito e luxuoso. E os funcionários estão sempre à disposição para ajudar… Quanto à beleza do local, você pode ver inúmeras fotos no Google para comprovar. Mas nada se compara a estar lá para conferir.


Teatro do Leblon – a cadeira de rodas não passa pela porta do banheiro

Bonita a foto do cartaz da peça com a
Clarice Niskier. Você receberá um
na entrada.
É um absurdo a gente não encontrar nos sites dos teatros informações sobre o acesso para pessoas com deficiência. Com uma longa busca no Google, descobri, em um comentário de uma pessoa, que havia condições de entrar no Teatro do Leblon com a cadeira, mas eu nada sabia sobre a utilização do banheiro. Bem, fique sabendo que a cadeira nem passa pela porta… Tive de procurar banheiro em restaurantes próximos.

Quanto ao monólogo com aClarice Niskier, não temos palavras adequadas para tecer elogios. A interpretação é magnífica e natural, ao ponto de não parecer interpretação. A atriz consegue grande profundidade, intimidade e interação com a plateia. Para arrematar, a música-tema é linda!

Em resumo, valeu a pena. Pretendo ver a peça novamente.


Exposição sobre a Índia no CCBB

No belo hall de entrada, a exposição já se apresenta
ao visitante. (Foto: Laura Martins)
O prédio que abriga o Centro Cultural Banco do Brasil no RJ se destaca pela bela arquitetura. O edifício tem linhas neoclássicas, colunas e ornamentos requintados e bela cúpula. O elevador é um espetáculo à parte! No local, há uma rica programação cultural, incluindo cinema, exposições e música. 

A exposição sobre a Índia é interativa e multimeios. Abrange 3 mil anos da cultura indiana, da antiguidade à contemporaneidade.  Tem entrada franca e fica em cartaz até 29/1/2012. Ah! O prédio é acessível, mas não me lembrei de verificar os banheiros. Sorry!

CCBB - Exposição sobre a Índia
(Foto: Laura Martins)
CCBB Rio de Janeiro
Foto retirada daqui.


Por hoje, é só. Semana que vem falo sobre praia, restaurantes e muito mais!


Leia o primeiro post desta série:



Comentários

  1. Renê Fortunato29/12/2011, 13:37

    Olá, como vai?
    Belíssimo o seu Bog...Parabéns!!!
    Como sugestão, segue o link de uma matéria interessantíssima, acredito valer a pena publicar:

    http://blogdocadeirante.blogspot.com/2011/12/moda-sobre-rodas.html

    Abraços

    ResponderExcluir
  2. Fui no teatro municipal ontem e acho desigual agente, cadeirante, ter que comprar plateia, ainda mais na posicao inclinada. comprei o mais barato que foi lah em cima e quando quiseram me deixar sozinho na plateia, me recusei e me arrumaram uma frisa tb. Absurdo nao termos acesso ao mais barato, pois já temos muitos gastos e impecilios que os andantes nao tem.
    abraco

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    Respostas
    1. Se a gente comprasse o lugar mais caro e tivesse o conforto que os andantes têm, ainda faria sentido... Mas comprar plateia e assistir à apresentação em posição inclinada - aí é demais. Esse povo do Municipal é sem noção...

      Obrigada pela visita e pela contribuição, Felipe! Abs

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  3. Laura, como carioca que saiu do RJ em 2000, devo dizer que fizeram adaptações ao modo deles, pois nunca consegui levar Andreia ao Teatro Municipal do RJ, nem no de SP enquanto moramos lá. São construções muito antigas e os governos obrigam mas não fiscalizam; infelizmente. Em contrapartida, SP oferece o epetáculo que é a Sala São Paulo, o Teatro Abril, a Oca do Ibirapuera entre outros que fomos enquanto morávamos lá. Bjo. Luiza Marques

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    Respostas
    1. Luiza, essa situação do Teatro Municipal do Rio é lamentável!

      Não conheço essas salas em SP. Vou colocar na lista.

      Mais uma vez obrigada pela visita! Beijos

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