Banheiro para todos?
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Na primeira foto, vemos a banheira apresentada como acessível. O que você acha? |
"Se o lugar não está preparado para receber todas as pessoas, o lugar é deficiente." Thais Frota (arquiteta)
Com frequência são divulgados
novos aparatos que visam facilitar a vida de pessoas com deficiência. Vão
desde uma cadeira de rodas com rampa acoplada até automóveis em que a pessoa
dirige assentada na própria cadeira de rodas. Embora todas essas iniciativas sejam louváveis, algumas vezes essas novas ferramentas, na prática, podem não ser funcionais, embora pareçam trazer mais qualidade para pessoas que têm alguma deficiência.
Cada vez que surge uma
novidade, recebo inúmeras mensagens de amigos que se interessam por meu
bem-estar – e, por isso, estão entusiasmados com a invenção – mas também de
pessoas, com deficiência ou não, que desejam saber o que eu acho da engenhoca…
Por isso, achei que seria útil falar sobre essas novas tecnologias e novos instrumentos aqui no blog. Quem sabe nos ajude a pensar a respeito, para que possamos nos manifestar sobre o assunto, até mesmo junto aos fabricantes, buscando melhorias?
Tenho comentado essas novidades
no Facebook, mas lá as postagens se perdem com o tempo. Estando registradas
aqui, fica mais fácil recorrer a elas quando necessário!
Banheiro
para todos?
No
dia 25/2, vi uma
reportagem, no blog Vencer Limites, sobre a aplicação do conceito de desenho universal em banheiros, ou
seja, o ambiente seria projetado para ser acessível a toda e qualquer pessoa.
Não se trata, portanto, de um banheiro adaptado para pessoas com deficiência, mas um ambiente
preparado para todos.
Três empresas do mesmo grupo estão apostando
nesse nicho de mercado aqui, no Brasil, e apresentando o resultado de seu
esforço em uma feira de construção civil.
Porém, algo me chamou a
atenção: as fotos divulgadas na reportagem não estavam, de fato,
ilustrando a aplicação do conceito de desenho universal.
Querendo pensar sobre o assunto, entrei
em contato com Marcelo Pinto Guimarães, doutor em design e professor de
arquitetura da UFMG, e trocamos algumas ideias a respeito, a fim de que eu
pudesse fazer este post para o blog. Então, passo a comentar as fotografias a
partir dessa conversa que tivemos.
Comentários à 1ª foto
A banheira com porta é uma
ideia interessante, mas me pergunto se é funcional. Isso porque o usuário não tem como sair da banheira se ela estiver cheia, já que terá de abrir a porta. E não poderá entrar com ela
cheia, pela mesma razão. Ou seja: precisará ficar dentro
da banheira, pacientemente, esperando que ela encha ou esvazie.
Além desse inconveniente, não será fácil para um cadeirante realizar transferência da cadeira de rodas para a banheira. Observe: devido à posição da barra de segurança, não há como aproximar a cadeira de rodas lateralmente. Mesmo que houvesse espaço para aproximação, a transferência não seria algo simples, por causa da posição do assento com relação à posição da cadeira de rodas.
O fabricante informa que “é uma
banheira desenvolvida especialmente para a acessibilidade. Vem com
sistema walk-in – uma porta de aço inox com vidro temperado de
8 mm de espessura, com trava com vedação que permite o acesso do usuário de
forma independente, ou seja, sem precisar do auxílio de outra
pessoa”. (Grifos meus)
Gente, eu adoraria ter uma
banheira bacana assim, mas duvido que eu conseguisse entrar nela sozinha…
Então, a banheira não atende à minha
necessidade de autonomia.
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Na segunda foto, assento sanitário elevado e lavatório sem espaço para aproximação com cadeira de rodas. |
Comentários à 2ª foto
Na segunda foto, vemos o
assento sanitário elevado, o que é uma solução para pessoas que têm dificuldade de se abaixar, como os idosos que têm mobilidade reduzida. Ou para cadeirantes que
necessitam de que o vaso sanitário esteja em altura adequada, a fim de minimizar
o esforço despendido na transferência.
Esse tipo de assento é útil
quando o vaso sanitário não foi construído já com a elevação, e quando não há
possibilidade de se fazer uma reforma.
Contudo, o assento sanitário mostrado
na foto me parece alto demais, o que pode causar dificuldades. Além disso,
assentos desse tipo podem oferecer riscos, se não estiverem bem fixados. De
modo geral, a fixação vai ficando frouxa com o tempo; se não forem feitos os
ajustes necessários, o usuário pode se acidentar.
Na mesma foto, o lavatório
não é adequado para cadeirantes, pois não permite a aproximação frontal da cadeira
de rodas.
Se a intenção era mostrar
ambientes que são pensados para todos, penso que a escolha dos
ambientes e das fotos poderia ter sido mais feliz, pois elas estão
contradizendo essa proposta.
Como Marcelo ressaltou em nossa
conversa, “as boas soluções dependem de escolhas acertadas para os diferentes
contextos”.
Colocar um assento sanitário
elevado não transforma o banheiro em um espaço para todos. Na verdade, o que temos
aí é uma adaptação do espaço.
Como eu já disse, minha
proposta é oferecer elementos para a gente pensar. Vale a pena pesquisar sobre
o conceito de desenho universal e entender sua abrangência.
De qualquer maneira, preciso
ser justa e dizer que o mesmo fabricante oferece recursos e dicas interessantes
para a acessibilidade dos banheiros, como uso de cortinas em vez de box,
lavatórios adequados, torneira com acionamento automático, etc. Abaixo, deixo link para o site, a fim de que possamos nos informar melhor a respeito.
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Este lavatório é do mesmo fabricante (Astra) e permite aproximação frontal da cadeira de rodas. |
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